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Entendendo a ansiedade: causas e tratamentos eficazes
A ansiedade pode ser debilitante, mas com a terapia comportamental certa, é possível retomar o controle e viver com mais leveza.
Thales Alexandre
12/2/20255 min read
A ansiedade é hoje um dos principais problemas de saúde mental no mundo e o Brasil está entre os países com maiores índices, com cerca de 9,3% da população apresentando transtornos de ansiedade ao longo da vida. A boa notícia é que existem tratamentos eficazes e baseados em evidências, especialmente a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e, quando necessário, a combinação com medicação.
O que é ansiedade (e quando vira problema)
Sentir ansiedade é parte normal da vida: é aquela apreensão antes de uma apresentação, prova ou decisão importante. Fala-se em transtorno de ansiedade quando o medo e a preocupação se tornam intensos, frequentes, difíceis de controlar e passam a atrapalhar o sono, o trabalho, os estudos, os relacionamentos ou a saúde física.
Alguns sinais comuns incluem: preocupação constante, sensação de “mente acelerada”, tensão muscular, dificuldade para relaxar, irritabilidade, fadiga, aperto no peito, taquicardia, falta de ar, problemas de sono e dificuldade de concentração. Muitas pessoas também relatam medo de “perder o controle”, de enlouquecer ou de que algo muito ruim esteja para acontecer, mesmo sem motivo claro.
Por que tanta gente está ansiosa
Estudos epidemiológicos mostram que os transtornos de ansiedade são os mais frequentes entre os transtornos mentais, afetando até um terço da população ao longo da vida em alguns levantamentos internacionais. No Brasil, estimativas da Organização Mundial da Saúde indicam que aproximadamente 9,3% dos brasileiros apresentam transtornos de ansiedade, colocando o país no topo do ranking mundial.
Após a pandemia de Covid-19, houve aumento global de ansiedade e depressão, estimado em cerca de 25% em alguns relatórios, o que intensificou uma crise que já existia. Fatores como incerteza econômica, sobrecarga de trabalho, isolamento social, uso excessivo de telas, violência urbana, desigualdades e falta de acesso a cuidados em saúde mental contribuem para esse.
Causas: um modelo biopsicossocial
A ciência entende a ansiedade a partir de um modelo biopsicossocial: vários fatores interagem, não há uma causa única.
Fatores biológicos: predisposição genética, funcionamento de sistemas de neurotransmissores (como serotonina e noradrenalina) e alterações em áreas cerebrais ligadas ao medo e à regulação emocional.
Fatores psicológicos: padrões de pensamento catastrófico (“vai dar tudo errado”), perfeccionismo, dificuldade de tolerar incertezas e estilos de enfrentamento baseados em evitação.
Fatores sociais e de estilo de vida: estresse crônico, experiências traumáticas, ambiente familiar crítico ou imprevisível, suporte social reduzido, sono ruim, sedentarismo e alimentação pobre em nutrientes.
Pesquisas mostram, por exemplo, que níveis mais baixos de apoio social e senso de coerência de vida estão associados a mais ansiedade em mulheres brasileiras, e que padrões alimentares saudáveis e prática regular de atividade física se relacionam a menor risco de ansiedade e melhor saúde mental.
Tratamentos comprovadamente eficazes
Há duas linhas principais de tratamento com forte respaldo científico: psicoterapia (especialmente TCC) e medicamentos, que podem ser usados isolados ou em combinação, conforme a gravidade.
Psicoterapia (com foco em TCC)
Revisões sistemáticas e diretrizes apontam a Terapia Cognitivo-Comportamental como o tratamento psicoterápico de primeira escolha para transtornos de ansiedade. A TCC atua em três frentes principais:
Reestruturação cognitiva: identificação e questionamento de pensamentos automáticos distorcidos (“se eu travar na reunião, vão me demitir”, “qualquer sintoma físico é algo grave”), ajudando a substituí-los por interpretações mais realistas e funcionais.
Exposição gradual: enfrentamento planejado e progressivo de situações temidas ou evitadas (como dirigir, falar em público, ficar em locais fechados), o que permite ao cérebro “aprender” que o perigo imaginado é menor do que parecia e reduzir a resposta de medo.
Treino de habilidades: técnicas de relaxamento, respiração diafragmática, manejo de preocupações, organização de rotina, habilidades sociais e de resolução de problemas.
Metanálises indicam que a TCC reduz de forma significativa sintomas de ansiedade e melhora o funcionamento global, com benefícios que se mantêm a médio e longo prazo. Há também evidências de que versões transdiagnósticas da TCC, focadas em emoções em geral, são eficazes para diferentes transtornos ansiosos e depressivos.
Tratamento medicamentoso
Diretrizes da Associação Médica Brasileira e da Associação Brasileira de Psiquiatria destacam os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) e os inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina (IRSN) como medicamentos de primeira linha para transtornos de ansiedade. Em geral, são indicados quando:
Os sintomas são moderados a graves
Há importante prejuízo funcional
Há pouca resposta à psicoterapia isolada ou impossibilidade momentânea de acesso/aderência à TCC
Estudos mostram que a combinação de TCC com medicação pode ser especialmente útil em quadros mais intensos, e em alguns casos a presença de psicoterapia permite reduzir doses e tempo de uso de medicamentos. A decisão sobre medicação deve sempre ser feita por médico psiquiatra, avaliando histórico de saúde, outras medicações e preferências da pessoa.
Outros recursos baseados em evidências
Intervenções de estilo de vida e recursos complementares, quando articulados com o tratamento principal, potencializam os resultados.
Atividade física regular: estudos em idosos e em diferentes populações mostram que exercícios aeróbicos e de força se associam à redução de sintomas de ansiedade e depressão, além de melhora cognitiva.
Alimentação: revisões indicam que padrões alimentares ricos em vegetais, grãos integrais e gorduras saudáveis têm relação com menor risco de transtornos ansiosos e depressivos, enquanto dietas inflamatórias aumentam esse risco.
Sono e rotina: higiene do sono, organização de horários, pausas de descanso e redução de uso de telas à noite ajudam a regular o sistema nervoso e reduzem vulnerabilidade à ansiedade.
Em quadros leves, alguns fitoterápicos específicos (como valeriana, passiflora e hipericão) aparecem em estudos como possíveis coadjuvantes, mas sempre exigem avaliação cuidadosa devido a interações e efeitos adversos. Nenhum recurso “natural” substitui, por si só, tratamentos recomendados em diretrizes para transtornos de ansiedade moderados ou graves.
Quando procurar ajuda (e por que marcar uma consulta)
Indicadores de que é hora de agendar uma avaliação psicológica ou psiquiátrica incluem: sintomas quase diários há semanas ou meses, prejuízo em trabalho/estudos, evitar situações importantes por medo, crises de pânico, uso de álcool ou outras substâncias para “segurar” a ansiedade e sensação de estar no limite. Nesses casos, esperar “passar sozinho” costuma prolongar o sofrimento e aumentar o risco de complicações, como depressão, abuso de substâncias e adoecimento físico.
Estudos mostram que, com acompanhamento adequado, a maioria das pessoas apresenta redução importante de sintomas e melhora significativa na qualidade de vida. Um processo estruturado de TCC oferece um plano claro, metas concretas e ferramentas práticas para que o paciente aprenda a lidar com a ansiedade hoje e a se proteger de recaídas no futuro.
Se você se reconheceu neste texto ou convive com alguém nessa situação, o próximo passo é uma avaliação profissional individualizada, em que serão mapeados seus gatilhos, padrões de pensamento, história de vida e condições médicas associadas. Agendar uma consulta é um movimento ativo de cuidado consigo mesmo e o primeiro passo para retomar o controle da sua vida, com tratamento alinhado às melhores evidências em Terapia Cognitivo-Comportamental.

